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terça-feira, 28 de junho de 2011

Edições de brilho e de sucesso

Durante anos, o Feec, principal evento cultural de Três de Maio, movimentou o cenário musical estudantil

Três de Maio. Este município que leva até hoje a marca de ser pioneiro em festivais estudantis no Estado, também conhecido como a cidade canção, traz aberta uma fenda na sua programação: o evento que a cada dois anos reavivava a cidade, hoje enfrenta dificuldades para ser realizado.O Festival Estadual Estudantil da Canção (Feec), que tivera início há 36 anos, fez da cidade um verdadeiro palco de revelação de vários compositores e intérpretes oriundos do movimento estudantil gaúcho.

Como tudo iniciouPode-se afirmar que Hélio Zawatski, na época presidente do Grêmio Estudantil Pio XII, é um dos pais do Feec. Segundo ele, o festival surgiu de uma associação de ideias e observações da época em que era estudante. “Existia naquela época a jovem guarda, movimento musical iniciado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Vanderleia e Vanderlei Cardoso. Em 1971, quando me desloquei para Três de Maio, o Colégio Pio XII, hoje Cardeal Pacelli, contava com 1.500 estudantes, o que formava o ambiente ideal para se desenvolver uma iniciativa e motivar aquela juventude a desenvolver algum evento”, relembra.
Tudo começou com o “Pio XII em Tempo de Primavera”, em 1971. Conforme Zawatski, assim como na primavera os pássaros cantam e surgem as flores, o ambiente era propício para a realização de um festival estudantil criando não só ídolos nacionais, mas também ídolos locais e regionais da música.

Depois do festival interno, 1º FIC reúne estudantes de toda a cidade
Devido ao sucesso que foi este festival embrião, Hélio, diretoria e as lideranças estudantis do colégio Pio XII mobilizaram-se para realizar um festival intercolegial, denominado Festival Intercolegial da Canção (FIC). “Com o apoio dos demais grêmios estudantis da cidade, neste mesmo ano ocorreu no auditório do Colégio Dom Hermeto o 1º FIC. Ninguém imaginava que este festival alcançasse o sucesso e a repercussão que teve na época”. O êxito no evento foi tanto que novamente inovaram e foi lançado no ano seguinte o Festival Regional Estudantil da Canção (Frec).“Foi quando criamos uma equipe de visitação nos colégios da região, para motivar os estudantes a participarem do festival”.

Três edições do Frec anunciam um novo festival
Sob a presidência de Hélio e a coordenação do professor João Seno Bach, o 1º Frec ocorreu no CTG Tropeiros do Buricá e teve a participação de 43 estudantes-cantores, oriundos de 16 municípios da região do Alto Uruguai. “Aproximadamente 3.500 espectadores asseguraram o sucesso da primeira edição, o que fez com que fosse realizada a segunda edição deste festival”, diz Hélio.
Na época sob a presidência de Bach, o 2º Frec aconteceu no galpão da Cotrimaio, tendo como cenário sacas de soja, adubos e venenos. Superlotou. Com duas categorias de classificação, 63 cantores participaram e foram aplaudidos por mais de seis mil pessoas. “Diante de todo esse sucesso, o Círculo de Pais e Mestres se deu as mãos e uniu-se para construir um local para a realização dos festivais. E em tempo recorde para a épocafoi construído o Ginásio de Esportes Pio XII”.
A 3ª edição do Frec foi a que inaugurou o novo espaço e entrou para a história de todos os festivais já realizados na cidade. “Vieram cantores e público de todas as regiões do Estado. Foi extraordinário, já que havia na época apenas outro festival no Estado, a Califórnia da Canção Nativa”, explica Bach.
O grupo de jurados desta edição do Frec foi seleto, e os destaques foram José Fernandes e Gilmara Sanches, do Programa Sílvio Santos. Aplaudiram os cantores nas no
vas dependências do ginásio aproximadamente 12 mil pessoas. E foi nesta edição do Frec que o estudante da época Rui da Silva Leonhardt, hoje conhecido como Rui Biriva (em memória) iniciou sua trajetória de sucesso na música. Conforme os registros, ele conquistou o terceiro lugar na categoria Interpretação.
E a terceira edição do Frec foi também a última. Em 1975 foi lançado o primeiro Festival Estadual Estudantil da Canção (Feec). E ele já iniciava em alta, já que os festivais embriões que o originaram obtiveram total sucesso.
Feec movimenta aspirantes a cantores
de todo o Estado
A proporção que um festival de nível estadual aliado às altas premiações fizeram com que estudantes-cantores de todo o Estado estivessem presentes no 1º Feec, em 1975.
Nas edições seguintes, os jurados também movimentavam os dias em que se realizava o festival e eram responsáveis pela superlotação do Ginásio de Esportes Pio XII.Dentre os famosos da época, estiveram em solo três-maiense Agnaldo Rayol, Elke Maravilha, Vera Fischer, Lucélia Santos e João Carlos Barroso. A atual diretora do Instituto Estadual de Educação Cardeal Pacelli, antigo Pio XII, Terezinha Zawatski, na época namorada de Hélio, acompanhou de perto o sucesso que os festivais vinham fazendo. “A cada ano os festivais iam tomando um nível superior, até chegar a âmbito estadual.A dimensão que tomou na época foi incrível, e ele cresceu
de uma forma extraordinária”.
E foi neste clima que o três-maiense IrenoEichelberger venceu o IV Feec, em 1979. Na categoria Interpretação, Irenoganhou com
o prêmio um Chevette zero quilômetro, invejado para a época. “Lembro-me da música que cantei na data: Café da Manhã, de Roberto Carlos”, destaca.
Assim como Ireno, outros cantores se consagraram por meio do Frec e do Feec. Após ser aplaudido no festival, Rui voltou para ser jurado do evento que o consagrou como cantor, assim como Shirle de Moraes, que seguiu os passos de Rui Biriva e foi jurada recentemente no Feec após também se apresentar no festival.

Crise interrompe festival por alguns anos
Porém, após a 5ª edição do Feec, em 1981, uma pausa de vários anos fez o festival ficar desacreditado na comunidade. Conforme relato da professora aposentada Ivone BadoStreicher, coordenadora de três edições do festival e uma das responsáveis por ressurgi-lo na época, a possível causa da parada do Feec seria por questões políticas e financeiras. “E para ressuscitar o festival, foi realizado em 1986 mais um Frec, para só dois anos depois ocorrer a 6ª edição do Feec”, revela.
Contudo, após ressurgir, as proporções do Feec mudaram um pouco. O momento econômico e cultural, aliado à premiação e jurados podem ser citados como três motivos que fizeram com que o festival não reunisse milhare
s de espectadores durante o evento como no princípio. Mas para Ivone, mesmo estando em momentos diferentes, um quesito, quem sabe um dos mais importantes, permaneceu em todas as edições do Feec: a qualidade dos candidatos. “Na época em que foi fundado o Feec não existia televisão, e hoje, vemos o mundo dentro de casa. São momentos diferentes. O festival começou de baixo, mas com força e em termos de qualidade artístico-musical e poética, ele nunca ficou pra trás dos primeiros”.

Evento se adequa à realidade econômica da época
Após isso, o Feec foi

sendo realizado a cada dois anos, e o panorama era de cantores mais regionais, assim como
o corpo de jurados. A premiação também foi sendo adaptada à realidade econômica. Maria Elena Naressi, que coordenou as duas últimas edições do evento, revela algumas adaptações que tiveram de ser feitas na 16ª e na 17ª edição do Feec. “Criamos novas categorias, a premiação passou a ser em dinheiro, e em função disso conseguimos reavivar o Feec”. Maria Elena conta que quando assumiu o evento,envolvimento dos alunos deixava muito a desejar. “O grande momento em que eles se engajaram foi nos primeiros anos do festival. Mas em 2007 fizemos um trabalho para vender ingressos e convidar a comunidade a prestigiar novamente o evento. Foi assim que conseguimos lotar o ginásio mais uma vez”.

Mais que um evento, uma escola de lideranças
Sem dúvida, o Feec e os festivais que o antecederam foram fundamentais para, além de divertir uma multidão de espectadores, formarinúmeros líderes na comunidade. “Olhando pra trás, eu vejo que o festival foi uma escola de lideranças, pois treinou muitos jovens. Os estudantes que assumiram o festival como líderes depois tornaram-se prefeitos, vereadores, presidentes de entidades, dentre outros. Sem falar que lançou no mercado diversos artistas e cantores”, emociona-se Hélio Zawatski.
João Seno Bach concorda com a afirmação de Hélio. “Hoje, muitos dos que se envolviam nos festivais desempenham hoje importantes funções na sociedade. O estudante precisa ter práticas, e foi o que aconteceu com quem organizava e celebrizara estes eventos estudantis”.
Nas últimas edições do Feec, alguns dos nomes de participantes que conquistaram premiações e que hoje figuram hoje no cenário musical são Felipe Martini, Luana Liz Eichelberger, Aline Regina Eichelberger, Anna Cristina Eichelberger, StefanieLenhardt, Shirle de Moraes, Ruggiero Sacilotto e Cibele Gerlach.
Para Cibele, uma das maiores conquistas da sua vida foi ter vencido por duas vezes o festival. “Em 2005, conquistei o primeiro lugar na Categoria Livre, Modalidade Composição, e em 2007, também nesta categoria, obtive o primeiro lugar na Modalidade Interpretação, e isso é motivo de muito orgulho para mim. Saber que faço parte da história deste festival é muito importante”, conta.
Já Ruggiero, participou apenas no XI Feec, quando se classificou em segundo lugar na Modalidade Interpretação. A partir daí, ele passou de calouro para jurado, e acompanhou os estudantes-cantores nas últimas quatro edições do festival.

O tão aguardado retorno
A 18ª edição do Feec seria realizada em 2009. Porém, um temporal que assolou o município em novembro de 2007 destruiu o ginásio, deixando o festival, literalmente, sem palco.
Após três anos de espera, o local foi reformado, e entregue à comunidade no ano passado. Mas a tão esperada volta do festival para este ano deverá ser aguardada por mais um tempo. Segundo a direção do Cardeal Pacelli, principal promotor dos festivais, a reforma do ginásio não contemplou todas as dependências, mas sim apenas as avarias deixadas pelo temporal.
Os vestiários, salas de autoridades e dos calouros, além do palco, não foram reparados, o que impossibilita a realização do Feec. Mais um outubro está por chegar e o sonho de mais um festival fazer brilhar o Cardeal Pacelli e Três de Maio terá que esperar um pouco mais.

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