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quarta-feira, 29 de junho de 2011

O RIO QUE INSPIRA CULTURA

Existe um Rio de muitos outros rios que a cada vibrar do violão, a cada estrofe desenhada, a cada rugido de gaita é lembrado.

São 2.200 km de águas turvas e, em muitos pontos, cristalinas e de belas paisagens. Um rio de intensas transformações ao longo da história, e uma fonte de encontros e inspiração para a cultura. O majestoso Rio Uruguai no seu percurso desenha diferentes regiões e culturas, margeando os estados sulistas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e, a tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Uruguai. Revela moradores e frequentadores de sua barranca, admirados com suas águas, mas também preocupados com a preservação deste manancial.


Belezas, preocupações, histórias, cotidiano e amizades. Tudo se torna poesia, música, poema, conto reunindo amigos à beira do Rio para compartilhar a vida e a emoção que dele emana. No Rio Grande do Sul, já foi cenário de séries como “Na Trilha dos Rios” da RBSTV e minissérie “A Casa das Sete Mulheres” da Rede Globo e continua sendo motivo de muitos projetos em favor de sua preservação. Civilizações diferenciadas o margeiam em busca de união, compartilhamento e produção de cultura, a fim de cultivar costumes que não querem ser deixados para trás, por nós e pelo Rio.








Fonte de notas musicais


O Festival da Barranca que acontece anualmente durante a Semana Santa, a uns 13 km da cidade de São Borja no oeste do Rio Grande do Sul, é um exemplo de encontro musical que literalmente é movido pelo Rio. O evento já ocorre há 40 anos, reunindo amigos e convidados num acampamento à beira do Rio Uruguai. Em cada edição do festival há um tema sobre o qual os participantes compõem as músicas durante o encontro, para no último dia compartilhar entre todos. Disputam também o troféu Apparício Silva Rillo, homenagem a um dos componentes do Grupo Amador de Arte Os Angüeras, fundadores do Festival da Barranca.


O compositor Odemar Gerhardt, participante do evento teve muitas composições vencedoras do Festival. Ele afirma que este é o “maior de todos e incentivador dos outros”. A inspiração vinda do Rio é por toda a História e belezas do Uruguai e mais “por contemplar as suas águas de cima de um caíque ou das suas barrancas, as melodias e poesias afloram ao natural nos compositores”. Odemar declara que participar do Festival da Barranca “não tem igual. E olha que já participei quase todos os festivais do Estado. A fonte de subsídios para escrever, compor e musicar é inesgotável. Você pode cantar este rio com quase todos os ritmos da nossa cultura e dos outros países que também são banhados por suas águas”.



Outro festival que enaltece o cenário e alma do Rio Uruguai através da cultura musical e poética é o Encontro Costeiro, promovido pelo Grupo de Arte e Cultura Costeiros do Yucumã, integrado por moradores de Esperança do Sul e Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul. O grupo se reúne à beira da fonte de inspiração para compor e interpretar músicas, poemas e contos. O advogado Valmor Luiz Abegg de Três Passos, presidente do Grupo conta que este “surgiu a partir da união de amigos que comungam um mesmo objetivo. A essência é a valorização da cultura e tradição da música e poesia gaúcha e a preocupação com a preservação do meio ambiente”. Ele explica que há outros grupos denominados “costeiros” pelo Estado com o mesmo objetivo deste.
Valmor comenta que a razão da escolha pelo Rio Uruguai é “natural, porque é aquele que nos é mais marcante, pela convivência de longos anos, uma vez que a maioria dos integrantes do grupo é nascida e criada” em cidades à beira do rio, como Esperança do Sul onde se realizam os encontros. Sobre a importância de festivais como este, afirma que eles “são pilares de preservação da arte, da tradição e, acima de tudo, da amizade entre homens que compartilham os mesmos ideais: cultuar a natureza e traduzir seus encantos em música e poesia”.






Amigos do Rio Uruguai


Muitas composições musicais nasceram da barranca do Rio Uruguai para os festivais e dali para o convívio de adoradores da arte musical. Você já ouviu, por exemplo, estas frases?

“Se lá no povo entre os blocos de cimento
Sentir no peito uma espécie de vazio
Junte a piazada tranque seu apartamento
Venha pra costa ouvir o canto do rio
Depois de noite quando a lua vem saindo
E a prosa mansa na varanda tem início
Entre os amigos do Uruguai por parceria
A correnteza chora e canta por capricho...”


Estes versos fazem parte da música “Amigos do Rio Uruguai” composta por Odemar Gerhardt, João Carlos Loureiro, com arranjo musical de Carlos Augusto Losekam. Sobre o surgimento da letra, Odemar que é natural de São Borja, conta que tudo começou com a fundação de um grupo denominado “Os Costeiros” , quando ele veio residir em Santa Rosa, em 1986. Organizado por ele com o intuito de realizar um festival semelhante ao já efetivado na sua cidade natal, o Festival da Barranca. Para isso era necessário um lugar às margens de um rio, assim o primeiro encontro foi no Rio Santa Rosa por causa da proximidade com o município. No entanto, o pensamento sempre foi realizar no rio maior, o Uruguai.


- Depois de várias tentativas em outros lugares, eis que fizemos então no lendário Rio. Nessa oportunidade ele foi realizado no município de Novo Machado, no Lajeado Corredeiras onde tem uma comunidade de moradores com casas à beira rio. Quando terminou o evento, numa noite de sábado, surgiu um desafio para que os compositores presentes fizessem uma homenagem a essa comunidade chamada ‘amigos do Rio Uruguai’, pela importância das suas atividades ecológicas (limpeza do rio) e pela fiscalização da pesca predatória.

-Este chamamento tocou os brios de mim e do João Carlos Loureiro. Embrenhamos-nos no mato de madrugada bem à beira da água e quando o sol nasceu a composição estava pronta para ser apresentada durante o almoço de domingo, onde aconteceria a entrega dos prêmios. Eis que a melodia e a letra tocaram fundo naquela gente e vários cantores queriam gravá-la.

- O primeiro cantor e amigo que nós autorizamos a gravar, foi o Valdomiro Maicá, quando realmente a música estourou. Seguiu-se depois, João Chagas Leite, Júlio Saldanha, Oswaldir e Carlos Magrão e muitos outros. Ainda estão nos pedindo para gravar esta composição apesar de tanto tempo. Nós definimos como nossa melhor obra sobre o rio Uruguai.

Declamando paixão ao Rio Uruguai

“Vivo meu tempo costeando as barrancas do Uruguai, fui filho e hoje sou pai, pescador de profissão, nunca usei minhas mãos pra exercer outro ofício, chalaneio, quase por vício e pesco por opção”. Estes são versos da poesia “Herança Pesqueira” do poeta Jorge Claudemir Soares, morador de Uruguaiana, município banhado pelo Rio que lhe inspira. Jorge escreveu a poesia para participar do 3º Festival Temático do Rio Uruguai, no ano 2007, ficando em segundo lugar na categoria.


Mas o que será que o Rio Uruguai tem que faz diversas pessoas a deleitar sobre a literatura e a música ao seu respeito? Jorge comenta que: “É muito difícil definir exatamente essa magia que une o homem fronteiriço a um rio que deu origem a cidade”. Mas é por toda a história que o Rio tem ao formar Uruguaiana “e mais a beleza natural e o fascínio que o Rio Uruguai exerce sobre todos nós, é que somos eternos apaixonados pelo velho Uruguai dos chibeiros e dos montarazes, e quero crer que, assim permaneceremos por muitos séculos ainda”, ressalta Jorge. O poeta finaliza dizendo que “o Uruguai é uma paixão para quem nasceu nesta terra e permanece aqui bebendo sua água, sobrevivendo do trabalho que ele oferece, e usufruindo de suas generosas dádivas”.




Inspiração para a cultura




Para Valmor Abegg o Rio Uruguai inspira tantas composições “porque há uma história de trabalho, sofrimento e alegrias sobre as águas do Rio Uruguai. Esses momentos inspiram e encantam. E, o resultado disso é traduzido em música e poesia pelos amantes da arte”.

Odemar afirma que a história que o Rio carrega é fonte de inspiração. “Este rio é lendário, pois foi palco de inúmeros episódios marcantes na história, na vida e na formação do Rio Grande do Sul”. Além disso, “sua fauna e flora, belíssima que outrora deleitava os nossos olhos. Os peixes Dourado, Piava e o Surubi para não citar tantos, estes os maiores predadores deste rio. Peixes rápidos, ligeiros que só caçam na correnteza que só este Rio possui. As garças, os Biguás que vem e vão. A onça que ainda em alguns lugares existe. A capivara que se banha em suas águas. Os bugios que estão sumindo e ameaçados de extinção que vinham aos bandos por cima de nossos acampamentos fazendo um alarido que parecia uma verdadeira guerra. Olha só a fartura de material para pesquisa poética-musical que nós temos! Por isso que nós amamos este rio e procuramos defendê-lo com a nossa arte, para que ele não sucumba”.



Mensagem de Odemar a todos nós: “Não deixem esse rio parar de correr. Que esse rio continue atirando os seus caracóis para as margens provando para todos nós que ele está vivo e pulsante. Que possamos ver a maravilha de um Dourado pulando pra fora d'água refletindo suas escamas pelo sol. Esse rio não pode morrer, pois se isso acontecer, nossa geração e as vindouras morrerão um pouco também”.
























Deisi Fabrim

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